Qualidade e disponibilidade da água para bovinos
Dentre todos os nutrientes consumidos pelos bovinos, a água é aquele consumido em maior quantidade, este nutriente é essencial para a vida, e é encontrado em alta concentração no corpo (NASEM, 2021). A qualidade da água é um fator importante para garantir o bem-estar e o desempenho dos bovinos em sistemas de produção.
A ingestão adequada de água é vital para manter a hidratação, regular a temperatura corporal, facilitar a digestão e absorção dos alimentos, regular e estimular o consumo de matéria seca e manter em alta ou estável o ganho médio diário.
A água pode conter minerais dissolvidos, compostos orgânicos e microrganismos que podem afetar a produção e saúde dos animais. A dureza da água geralmente é descrita como os efeitos catiônicos totais de Ca e Mg contidos na água. As categorias de dureza descritas pelo NRC (1980) são mole (0 a 60 mg/L), moderadamente dura (61 a 120 mg/L), dura (121 a 180 mg/L) e muito dura (> 180 mg/L). Com base em testes de até 290 mg/L a ingestão de água não foi afetada em vacas, porém em bezerras desmamadas observou-se redução na ingestão da água livre ingerida (Senevirathne, 2018). Mas a dureza da água pode afetar o sistema de distribuição por incrustações que podem se formar.
A alta concentração de cloreto, principalmente o cloreto de sódio, pode reduzir a ingestão da mineralização fornecida aos animais via cocho, para este tipo de água é comum a denominação de água salobra. Os bovinos possuem avidez por sal branco, e se houver concentração elevada desse mineral na água é comum o baixo consumo do suplemento mineral no cocho, assim, pode acontecer a desmineralização do rebanho.
A água pode conter minerais, que pode contribuir no suprimento das exigências de minerais pelos bovinos, porém, se as concentrações forem altas pode acarretar redução na ingestão de água e ter outros efeitos prejudiciais na saúde e produção. Altas concentrações de íons sulfato na água podem afetar negativamente tanto a ingestão de água quanto a ingestão de alimentos. (Loneragan, et. al 2001). O NRC 2005 sugere que bovinos sob regime de pastagem podem beber com segurança água contendo 2,500 mg de sulfato/L. Dependendo da concentração dietética de S, a água com 1,000 a 1,500 mg de sulfato/L pode causar antagonismo de cobre (Cu) e selênio (Se). O consumo excessivo de Ferro pode gerar antagonismo com o cobalto (Co), Cu, manganês (Mn), Se e zinco (Zn). A suplementação de Fe na dieta raramente é necessária para bovinos adultos e, se na água contiver Fe, a suplementação normalmente deve ser evitada.
A ingestão de água de boa qualidade, limpa e palatável proporciona aumento de consumo de água por parte dos animais, e consequentemente aumento na ingestão de alimentos com melhora de desempenho e saúde. (Llonch et al., 2023)
Os bebedouros podem ser de alvenaria, de chapas onduladas ou de concreto. O reservatório não precisa ser grande, depende do tamanho do lote de animais e da rapidez da reposição da água, de grande vazão, a premissa básica se tratando de água é qualidade e disponibilidade. Deve ser lembrado que ocorre pico de consumo de água nas horas quentes do dia. Cerca de 70% do consumo diário de água ocorre num período de 4 horas, das 11 horas às 15 horas. O estoque total de água no sistema reservatório + bebedouros devem ser suficiente para pelo menos 2 dias de consumo. Em pastos de uso extensivo, deve-se proporcionar uma frente de bebedouro de pelo menos 5 cm/cabeça. Em módulos de pastejo rotacionado, a frente do bebedouro pode ser de 2 a 3 cm/cabeça.
Além disso, a localização do bebedouro no piquete afeta a ingestão de alimentos pelos animais em pastejo. Ao caminharem em busca de água, os animais podem optar por determinada região do piquete e selecionar qual melhor sítio de pastejo (Glasser, 2003).
A localização do bebedouro influencia o consumo de suplementos, uma vez que o animal priorizará o consumo de água ao de suplemento, então recomenda-se que o bebedouro fique próximo ao cocho de suplemento mineral e proteico. Para cochos que são servidos rações e farelos é ideal que fique a cerca de 30 metros, para evitar que o excesso de alimento na boca do animal caia direto na água exigindo maior frequência de limpeza.
Referências Bibliográficas:
Loneragan, G.H, Wagner J. J., Gould D. H., Garry F. B., Thoren M. A. Effects of water sulfate concentration on performance, water intake, and carcass characteristics of feedlot steers. Journal of Animal Science, Volume 79, Issue 12, December 2001, Pages 2941 2948, https://doi.org/10.2527/2001.79122941x
Glasser, F.D. Aspectos comportamentais de bovinos da raça Angus a pasto frente à disponibilidade de recursos de sombra e água para imersão. 2003. 84p. Dissertação (Mestrado). Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos, USP, Pirassununga.
Llonch, L. et al. Drinking water chlorination in dairy beef fattening bulls: water quality, potential hazards, apparent total tract digestibility, and growth performance. Animal, [S.L.], v. 17, n. 1, p. 100685, jan. 2023. https://dx.doi.org/10.1016/j.animal.2022.100685.
National Academies of Sciences, Engineering, and Medicine. Division on Earth and Life Studies; Board on Agriculture and Natural Resources; Committee on Nutrient Requirements of Dairy Cattle (NASEM). Nutrient Requirements of Dairy Cattle: Eighth Revised Edition. Washington (DC): National Academies Press (US); 2021 Aug 30. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK600603/ doi: 10.17226/25806.
NRC, 2005. Mineral Tolerance of Animals, second revised edition. National Research Council of the National Academies, The National Academies Press, Washington D.C
Senevirathne, N.D., J.L. Anderson J. L. e Rovai M. 2018. Growth performance and health of dairy calves given water treated with a reverse osmosis system compared to municipal city water. J. Dairy Sci, 101:8890-8901.
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