Planejamento forrageiro na pecuária leiteira assegura a produtividade e eficiência na utilização das pastagens
Com o objetivo bem traçado, o produtor pode melhorar a eficiência na produção tanto por animal como por hectare
Temos visto a importância de criar o hábito de planejar ações e tratar a atividade pecuária como uma empresa. Isto porque quanto mais conseguimos nos adiantar em relação a investimentos e retorno financeiro, somos menos surpreendidos com problemas repentinos.
Na pecuária leiteira, grande parte da produção nacional é realizada sob regime de pastagem. Sabemos que a pastagem sofre alterações na qualidade e disponibilidade ao longo do ano, em decorrência das alterações climáticas, e este fator torna importante realizar o planejamento forrageiro visando reduzir os efeitos da estacionalidade sobre alimentação do rebanho.
Por isso, o planejamento tem como objetivo assegurar a produtividade e eficiência na utilização das pastagens, proporcionando assim melhoria na produção por vaca e por hectare.
Então, podemos dividir o planejamento em alguns pontos:
Rebanho
O planejamento forrageiro se fundamenta na evolução do rebanho, ou seja, precisamos saber quantos animais em cada categoria existem, e qual a projeção anual para evolução do rebanho. Também é preciso saber quantos animais estarão em lactação, o número estimado de bezerras, novilhas, touros e vacas secas em determinado período.
A evolução do rebanho é pautada nos índices reprodutivos da propriedade e na capacidade de suporte tanto das pastagens quanto do operacional da fazenda. Nesta fase do início do planejamento deve ser adotado o descarte de animais improdutivos que geralmente puxam os resultados da fazenda para baixo.
Com o número de animais por categoria, podemos converter os pesos dos animais em Unidades Animal (UA), assim, cada 1,0 UA corresponde a 450 kg de peso vivo. Em termos práticos, geralmente, para cada duas vacas em lactação haverá mais uma bezerra (= 0,3 UA) e uma novilha (= 0,7 UA), totalizando 3 UA. Assim, o número de vacas em lactação corresponde a 67% da capacidade de suporte, e os outros 33% restantes as demais categorias.
Após sabermos a projeção da quantidade de animais, precisamos identificar como é a exigência nutricional de cada categoria e relacionar a exigência com a época do ano (escassez ou oferta adequada de forragem). A quantidade de leite produzida diariamente dita o nível de exigência nutricional das vacas em lactação, assim, é preciso verificar a produção diária e o número de vacas neste grupo.
Outro fato que merece atenção é a curva de lactação média e o DEL (Dias em lactação) do rebanho, pois ao conhecê-los temos a possibilidade de prever qual será a produção de leite média daqui alguns meses, assim, saber o quanto de alimento precisará ter disponível para alimentação.
Pastagem
Em mãos a quantidade de alimento que precisaremos, partimos para análise do perfil da propriedade e ações a serem implantadas para adequar as pastagens e o rebanho. Então, para caracterização do perfil da propriedade precisamos ter conhecimentos dos seguintes pontos:
- Área dos piquetes;
- Fertilidade do solo;
- Áreas com problemas físicos (problemas de drenagem, muitas pedras);
- Qual planta forrageira é cultivada ou será introduzida;
- Condição climática local;
- Níveis de adubação;
- Irrigação;
- Estoque de forragem e possibilidade de aquisição de forragem conservada.
Com os pontos acima levantados, temos condições de saber qual a capacidade de suporte da pastagem. Capacidade de suporte significa o número de UA que uma determinada área (geralmente 1 hectare) suporta em determinada época do ano, sem causar degradação da pastagem. Assim, cada forrageira tem curva de crescimento e produtividade diferentes, consequentemente a capacidade de suporte é alterada.
Esta medida depende do potencial produtivo da espécie de forragem escolhida, da fertilidade do solo, condições climáticas, manejo e ciclo produtivo da pastagem.
Um detalhe importante é que mensuramos o consumo dos animais por ingestão de Matéria Seca (MS), que é geralmente em torno de 2% do peso do animal, então, é interessante calcular a produtividade da forrageira em tonelada de MS por hectare, para entender quantos animais se alimentarão naquela área por determinado tempo.
Como podemos calcular o quanto o animal precisa ingerir e a produtividade da pastagem (t/ha), saberemos se a oferta de volumoso será adequada em termos de disponibilidade e qualidade ou se faltará/sobrará. Diante disso é necessário fazer ajustes na taxa de lotação e algumas ações preventivas e corretivas devem ser planejadas, como:
- Adequar o tamanho do piquete com a quantidade correta de animais;
- Adequar período de descanso dos piquetes;
- Realizar reforma de piquetes;
- Análise de solo para correção, se necessária;
- Formação/recuperação de pastos.
Com o decorrer do tempo, o registro das informações e acompanhamento das ações faz com que o planejamento forrageiro seja certeiro e a oferta de pastagem seja adequada durante o ano todo.
Alimentação
A dieta do rebanho não é composta apenas pelas pastagens, em geral, é preciso realizar o planejamento dos outros ingredientes componentes da dieta, como farelos energéticos (milho, sorgo, polpa cítrica, etc), farelos proteicos (farelo de soja, farelo de algodão, farelo de amendoim), suplementos minerais, vitamínicos, e aditivos que compõem as rações. A água é um componente fundamental da dieta e precisa estar em quantidade e qualidade suficientes para os animais desempenharem bem.
Por fim, caso haja necessidade de complementação de volumoso, alguns alimentos conservados podem ser utilizados para este fim, por exemplo, silagens ou feno.
O planejamento do alimento principal em fazendas de produção de leite a pasto é um ponto de sucesso no resultado financeiro. Talvez, a implantação do planejamento seja complicada, mas o início do registro de dados gerais da fazenda torna a implantação mais fácil. O ideal é que os hábitos de registros e planejamento de ações sejam adotados, tornando mais visível os pontos a serem melhorados para alcançar melhores resultados.
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