Cuidados na fase de cria geram lucro na pecuária leiteira

04/03/2020


Fazer com que as bezerras se desenvolvem bem e de forma saudável é a maneira mais eficaz de obter resultados positivos no desempenho e reprodução na pecuária leiteira. É na fase de cria que a bovinocultura de leite demanda mais atenção, pois é o inicio do processo da atividade.

O momento após o nascimento é de grande desafio. É preciso minimizar os riscos com doenças e mortalidade, além de fazer com que as bezerras ganhem peso de forma eficiente e acelerada. Nesta fase, a diarreia se apresenta como um dos principais vilões, reduzindo o desempenho dos animais em aleitamento. Esse fato torna evidente a necessidade de medidas preventivas para reduzir as perdas que surgem com essa enfermidade.

Para ajudar com a implantação de medidas preventivas e/ou corretoras durante a fase de criação de bezerras, dividimos esta etapa em alguns setores/atividades:

  1. Colostragem:

O colostro bovino é composto por secreções lácteas e constituintes do soro sanguíneo obtidos na primeira ordenha da vaca após o parto. O colostro se destaca pelo seu elevado teor de imunoglobulinas, que atuam na defesa do organismo do animal contra agentes patogênicos, ou seja, é a primeira vacina natural que o bezerro recebe. Além da função de proteção, o colostro fornece energia e reservas importantes de vitaminas e minerais aos recém-nascidos.

O sucesso na imunização do bezerro e, consequentemente, redução da mortalidade nesta fase se deve a três pilares na colostragem:

  • Tempo de fornecimento: quanto mais rápido melhor. Até as primeiras seis horas após o nascimento ocorre a absorção de imunoglobulinas com maior eficiência. Com o passar do tempo a bezerra perde a capacidade de absorver esta proteção, até que 24 horas após o nascimento o colostro não tem papel de transferência de imunidade;
  • Volume de fornecimento: recomenda-se fornecimento de volume correspondente a 10% do peso ao nascer do bezerro;
  • Qualidade do colostro: recomenda-se avaliar a qualidade do colostro, podendo utilizar o colostrômetro ou o refratômetro de Brix.

Dicas para esta fase:

  • Atenção à nutrição da vaca no terço final da gestação para garantir a produção e alta qualidade do colostro;
  • É preciso que a bezerra consuma cerca de 10% do peso vivo de colostro de boa qualidade durante as primeiras três horas de vida, se atentando para que mame o máximo possível no menor espaço de tempo após o nascimento;

 

  1. Manejos iniciais/Sanidade:

Após o nascimento é necessário realizar o corte do umbigo da bezerra com cerca de dois ou três dedos de cumprimento, e proceder com a cura do umbigo com solução de iodo a 10%. O processo de cura do umbigo precisa ser repetido diariamente pela manhã e tarde durante três dias, esse processo garante que se feche o mais rápido possível a porta de entrada de microrganismos patogênicos.

Também é preciso aparar os pelos do rabo das bezerras, para evitar possíveis infecções pela aderência de fezes na pelagem. Se for preciso realizar a descorna, é interessante que ocorra ainda na primeira semana de vida, evitando dores e favorecendo a cicatrização da área cortada.

Se for preciso, realizar a retirada de tetas excedentes com tesoura e desinfetar o local com álcool iodado. Atenção! É necessária a presença de pessoa bem treinada para não eliminar alguma teta funcional.

Dicas para esta atividade:

  • Em sistema de aleitamento artificial, no segundo dia, é preciso separar o bezerro da vaca;
  • No dia do nascimento pesar as bezerras e anotar o peso para acompanhar a evolução e identificar o animal com brinco.

 

  1. Bezerreiro:

Atualmente o uso de bezerreiros coletivos tem diminuído para evitar contato entre as bezerras, evitando assim disseminação de patógenos. O uso de bezerreiros em sistema de casinhas isoladas tem sido adotado devido a maior possibilidade de diagnósticos e tratamento de doenças, anulação de competitividade por alimento, água e ambiente, e pelo melhor controle de consumo de concentrado.

Alguns pontos devem ser levados em consideração na adoção deste sistema, sendo eles:

  • As casinhas devem ser desinfetadas e voltadas para direção nascente do Sol e contra as correntes de ar. Elas devem ficar em ambiente limpo, inclinado (para escoamento de água) e com gramado, de tal forma que evite o acúmulo de água;
  • Prender as bezerras com coleira para evitar contato umas com as outras;
  • Trocar a casinha de local caso necessário, geralmente em época de chuva, pela ocorrência de lama. Ou, se a bezerra apresentar incidência de diarreia, trocar a casinha de local e realizar a desinfecção.

 

  1. Dieta líquida:

Do segundo dia após o nascimento em diante, o ideal é fornecer o volume correspondente a no mínimo 10% do peso vivo da bezerra de leite, ou seja, por volta de quatro a oito litros diários (dois litros pela manhã e dois litros à tarde).

Os dois principais métodos de aleitamento são: o sistema convencional (quatro litros de leite por dia) e o sistema intensivo (acima de quatro litros de leite por dia). O sistema intensivo resulta em melhor ganho de peso, mas deve ser adotado com cautela, pois desfavorece o consumo de concentrado. Então, neste sentido, pode-se lançar mão do sistema de aleitamento intensivo programado (início do aleitamento: 10% PN; fase intermediária: 20% PN e fase final: 10% PN).

O desaleitamento pode ser realizado respeitando alguns destes critérios:

  • Consumo de 600 a 800 g de concentrado por três dias consecutivos;
  • Data fixada – Ex: 60 dias de idade;
  • Peso fixado – Ex: 80 kg, 90 kg;
  • Dobrar o peso ao nascimento

Dicas para essa atividade:

  • A adição de minerais, vitaminas e aditivos ao leite para suprir por completo as exigências nutricionais de bezerras é uma alternativa para favorecer o ganho de peso do animal, melhor aproveitamento do alimento fornecido e manutenção do animal saudável;
  • Fornecer o leite em temperatura próxima aos 36ºC.

  1. Dieta sólida:

O aleitamento deve vir acompanhado do fornecimento de dieta sólida a partir da segunda semana do nascimento. É aconselhável nos primeiros dias de vida, após o fornecimento de leite, colocar ração na boca do animal para influenciar o consumo. O concentrado às bezerras é importante, pois acelera o desenvolvimento do rúmen fazendo com que elas se tornem aptas a digerir o volumoso mais rapidamente.

O consumo de concentrado deverá ser gradativo, sendo que após o corte de fornecimento de dieta líquida, consequentemente, com a redução do hábito de mamar, a bezerra tende a aumentar o consumo de concentrado de 500 gramas/bezerra/dia para 2 kg/bezerra/dia.

O principal motivo no fornecimento da dieta sólida é fazer com que os bezerros consumam o alimento, sendo os pontos importantes que impactam no consumo:

  • Volume de fornecimento de dieta líquida;
  • Tamanho da partícula do alimento;
  • Fornecimento de feno à vontade;
  • Cochos adequados;
  • Ausência de competição.

Na hora do fornecimento do concentrado, alguns itens devem ser levados em consideração, entre eles:

  • Ser altamente palatável;
  • Teores de Proteína Bruta por volta de 20% e valores de cerca de 80% de energia, além de conter valores de vitaminas e minerais recomendados pelo NRC;
  • Conter aditivo que auxilie na prevenção de diarreia e melhora da fermentação ruminal;
  • Não conter ureia.

A fonte de volumoso ideal a ser fornecida às bezerras é feno de boa qualidade ou capim verde, não é recomendado fornecer silagem ou cana, mais a ureia, para animais de até 100 dias de vida.

Dicas para essa atividade:

Garantir acesso à água fresca, morna e limpa desde os primeiros dias de vida às bezerras.

O ponto chave ao produtor é entender que por mais que pareça uma fase difícil, pois sobressaem os custos e ainda não dão lucro para a propriedade, as bezerras serão as produtoras de leite, então precisam da devida atenção. Por isso, exemplificamos abaixo o quanto a criação bem feita das bezerras acelera o ganho de peso e faz com que as novilhas estejam aptas ao processo de inseminação em tempo hábil, e prontas para gerar excelentes resultados:

TABELA 1 – Análise de três animais em diferentes idades de cobertura e o retorno mostrado após 36 meses.

Rendimento esperado com a diminuição da idade ao primeiro parto
Idade ao
primeiro parto
36 meses30 meses24 meses
Cobertura (meses)272115
Situação aos 3 anosInício da
1º Lactação
6 meses
de Lactação
1º Lactação
Encerrada
Leite produzido
no período (Litros)
027004500
Receita com
leite (RS 1,37)
R$ 0,00R$ 3.699,00R$ 6.165,00
Consumo de ração
para produção (Kg)
09002100
Custo da ração (RS 1,90)R$ 0,00R$ 1.710,00R$ 3.990,00
BalançoR$ 0,00R$ 1.989,00R$ 2.175,00

 

Conclusão:

Investir nos aspectos de manejo e sanidade e, principalmente, em uma dieta líquida e sólida de excelente qualidade trarão resultados extremamente positivos ao seu negócio.


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