Cuidados na fase de cria geram lucro na pecuária leiteira
Fazer com que as bezerras se desenvolvem bem e de forma saudável é a maneira mais eficaz de obter resultados positivos no desempenho e reprodução na pecuária leiteira. É na fase de cria que a bovinocultura de leite demanda mais atenção, pois é o inicio do processo da atividade.
O momento após o nascimento é de grande desafio. É preciso minimizar os riscos com doenças e mortalidade, além de fazer com que as bezerras ganhem peso de forma eficiente e acelerada. Nesta fase, a diarreia se apresenta como um dos principais vilões, reduzindo o desempenho dos animais em aleitamento. Esse fato torna evidente a necessidade de medidas preventivas para reduzir as perdas que surgem com essa enfermidade.
Para ajudar com a implantação de medidas preventivas e/ou corretoras durante a fase de criação de bezerras, dividimos esta etapa em alguns setores/atividades:
- Colostragem:
O colostro bovino é composto por secreções lácteas e constituintes do soro sanguíneo obtidos na primeira ordenha da vaca após o parto. O colostro se destaca pelo seu elevado teor de imunoglobulinas, que atuam na defesa do organismo do animal contra agentes patogênicos, ou seja, é a primeira vacina natural que o bezerro recebe. Além da função de proteção, o colostro fornece energia e reservas importantes de vitaminas e minerais aos recém-nascidos.
O sucesso na imunização do bezerro e, consequentemente, redução da mortalidade nesta fase se deve a três pilares na colostragem:
- Tempo de fornecimento: quanto mais rápido melhor. Até as primeiras seis horas após o nascimento ocorre a absorção de imunoglobulinas com maior eficiência. Com o passar do tempo a bezerra perde a capacidade de absorver esta proteção, até que 24 horas após o nascimento o colostro não tem papel de transferência de imunidade;
- Volume de fornecimento: recomenda-se fornecimento de volume correspondente a 10% do peso ao nascer do bezerro;
- Qualidade do colostro: recomenda-se avaliar a qualidade do colostro, podendo utilizar o colostrômetro ou o refratômetro de Brix.
Dicas para esta fase:
- Atenção à nutrição da vaca no terço final da gestação para garantir a produção e alta qualidade do colostro;
- É preciso que a bezerra consuma cerca de 10% do peso vivo de colostro de boa qualidade durante as primeiras três horas de vida, se atentando para que mame o máximo possível no menor espaço de tempo após o nascimento;
- Manejos iniciais/Sanidade:
Após o nascimento é necessário realizar o corte do umbigo da bezerra com cerca de dois ou três dedos de cumprimento, e proceder com a cura do umbigo com solução de iodo a 10%. O processo de cura do umbigo precisa ser repetido diariamente pela manhã e tarde durante três dias, esse processo garante que se feche o mais rápido possível a porta de entrada de microrganismos patogênicos.
Também é preciso aparar os pelos do rabo das bezerras, para evitar possíveis infecções pela aderência de fezes na pelagem. Se for preciso realizar a descorna, é interessante que ocorra ainda na primeira semana de vida, evitando dores e favorecendo a cicatrização da área cortada.
Se for preciso, realizar a retirada de tetas excedentes com tesoura e desinfetar o local com álcool iodado. Atenção! É necessária a presença de pessoa bem treinada para não eliminar alguma teta funcional.
Dicas para esta atividade:
- Em sistema de aleitamento artificial, no segundo dia, é preciso separar o bezerro da vaca;
- No dia do nascimento pesar as bezerras e anotar o peso para acompanhar a evolução e identificar o animal com brinco.
- Bezerreiro:
Atualmente o uso de bezerreiros coletivos tem diminuído para evitar contato entre as bezerras, evitando assim disseminação de patógenos. O uso de bezerreiros em sistema de casinhas isoladas tem sido adotado devido a maior possibilidade de diagnósticos e tratamento de doenças, anulação de competitividade por alimento, água e ambiente, e pelo melhor controle de consumo de concentrado.
Alguns pontos devem ser levados em consideração na adoção deste sistema, sendo eles:
- As casinhas devem ser desinfetadas e voltadas para direção nascente do Sol e contra as correntes de ar. Elas devem ficar em ambiente limpo, inclinado (para escoamento de água) e com gramado, de tal forma que evite o acúmulo de água;
- Prender as bezerras com coleira para evitar contato umas com as outras;
- Trocar a casinha de local caso necessário, geralmente em época de chuva, pela ocorrência de lama. Ou, se a bezerra apresentar incidência de diarreia, trocar a casinha de local e realizar a desinfecção.
- Dieta líquida:
Do segundo dia após o nascimento em diante, o ideal é fornecer o volume correspondente a no mínimo 10% do peso vivo da bezerra de leite, ou seja, por volta de quatro a oito litros diários (dois litros pela manhã e dois litros à tarde).
Os dois principais métodos de aleitamento são: o sistema convencional (quatro litros de leite por dia) e o sistema intensivo (acima de quatro litros de leite por dia). O sistema intensivo resulta em melhor ganho de peso, mas deve ser adotado com cautela, pois desfavorece o consumo de concentrado. Então, neste sentido, pode-se lançar mão do sistema de aleitamento intensivo programado (início do aleitamento: 10% PN; fase intermediária: 20% PN e fase final: 10% PN).
O desaleitamento pode ser realizado respeitando alguns destes critérios:
- Consumo de 600 a 800 g de concentrado por três dias consecutivos;
- Data fixada – Ex: 60 dias de idade;
- Peso fixado – Ex: 80 kg, 90 kg;
- Dobrar o peso ao nascimento
Dicas para essa atividade:
- A adição de minerais, vitaminas e aditivos ao leite para suprir por completo as exigências nutricionais de bezerras é uma alternativa para favorecer o ganho de peso do animal, melhor aproveitamento do alimento fornecido e manutenção do animal saudável;
- Fornecer o leite em temperatura próxima aos 36ºC.
- Dieta sólida:
O aleitamento deve vir acompanhado do fornecimento de dieta sólida a partir da segunda semana do nascimento. É aconselhável nos primeiros dias de vida, após o fornecimento de leite, colocar ração na boca do animal para influenciar o consumo. O concentrado às bezerras é importante, pois acelera o desenvolvimento do rúmen fazendo com que elas se tornem aptas a digerir o volumoso mais rapidamente.
O consumo de concentrado deverá ser gradativo, sendo que após o corte de fornecimento de dieta líquida, consequentemente, com a redução do hábito de mamar, a bezerra tende a aumentar o consumo de concentrado de 500 gramas/bezerra/dia para 2 kg/bezerra/dia.
O principal motivo no fornecimento da dieta sólida é fazer com que os bezerros consumam o alimento, sendo os pontos importantes que impactam no consumo:
- Volume de fornecimento de dieta líquida;
- Tamanho da partícula do alimento;
- Fornecimento de feno à vontade;
- Cochos adequados;
- Ausência de competição.
Na hora do fornecimento do concentrado, alguns itens devem ser levados em consideração, entre eles:
- Ser altamente palatável;
- Teores de Proteína Bruta por volta de 20% e valores de cerca de 80% de energia, além de conter valores de vitaminas e minerais recomendados pelo NRC;
- Conter aditivo que auxilie na prevenção de diarreia e melhora da fermentação ruminal;
- Não conter ureia.
A fonte de volumoso ideal a ser fornecida às bezerras é feno de boa qualidade ou capim verde, não é recomendado fornecer silagem ou cana, mais a ureia, para animais de até 100 dias de vida.
Dicas para essa atividade:
Garantir acesso à água fresca, morna e limpa desde os primeiros dias de vida às bezerras.
O ponto chave ao produtor é entender que por mais que pareça uma fase difícil, pois sobressaem os custos e ainda não dão lucro para a propriedade, as bezerras serão as produtoras de leite, então precisam da devida atenção. Por isso, exemplificamos abaixo o quanto a criação bem feita das bezerras acelera o ganho de peso e faz com que as novilhas estejam aptas ao processo de inseminação em tempo hábil, e prontas para gerar excelentes resultados:
TABELA 1 – Análise de três animais em diferentes idades de cobertura e o retorno mostrado após 36 meses.
Rendimento esperado com a diminuição da idade ao primeiro parto | |||
Idade ao primeiro parto | 36 meses | 30 meses | 24 meses |
Cobertura (meses) | 27 | 21 | 15 |
Situação aos 3 anos | Início da 1º Lactação | 6 meses de Lactação | 1º Lactação Encerrada |
Leite produzido no período (Litros) | 0 | 2700 | 4500 |
Receita com leite (RS 1,37) | R$ 0,00 | R$ 3.699,00 | R$ 6.165,00 |
Consumo de ração para produção (Kg) | 0 | 900 | 2100 |
Custo da ração (RS 1,90) | R$ 0,00 | R$ 1.710,00 | R$ 3.990,00 |
Balanço | R$ 0,00 | R$ 1.989,00 | R$ 2.175,00 |
Conclusão:
Investir nos aspectos de manejo e sanidade e, principalmente, em uma dieta líquida e sólida de excelente qualidade trarão resultados extremamente positivos ao seu negócio.
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