Saiba quais são os melhores alimentos conservados para as vacas leiteiras durante a seca
Para evitar a perda de produtividade na pecuária leiteira de animais no pasto durante o período seco, o uso de alimentos conservados se destaca como uma opção que garante aos animais acesso aos alimentos em quantidade e qualidade mínimas para seu desempenho.
E para escolher o tipo de alimento que pretende conservar é preciso levar em consideração os aspectos técnicos, nutricionais e econômicos da propriedade.
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Veja a seguir alguns alimentos conservados que podem ser utilizados na atividade leiteira:
- Silagem
A silagem é o produto proveniente da conservação de forragem úmida (planta inteira) ou de grãos de cereais com alta umidade (grão úmido) por meio da fermentação em ambiente sem a presença de oxigênio. A conservação da forragem ocorre devido à fermentação lática fazendo com que o pH do meio abaixe e impeça que as bactérias indesejáveis apodreçam a silagem, já que a ausência de oxigênio evita a proliferação de fungos e mofos.
A ensilagem nada mais é do que o resultado do corte da forragem, seu armazenamento no silo, compactação e vedação para o início do processo de fermentação pelas bactérias.
É bastante importante avaliar alguns aspectos diariamente, tais como: odor agradável, aspecto uniforme e consumo animal. Caso algum item esteja fora do comum, é ideal enviar uma amostra da silagem para o laboratório e verificar seu valor nutritivo, assim como a presença de contaminantes.
- Silagem de Milho (Planta inteira)
A silagem de milho é realizada pela planta inteira do milho. Esta cultura é a mais utilizada para a produção de silagem, devido ao seu maior valor nutritivo em comparação a outras silagens, sendo encontrados geralmente valores entre 6 a 8% de PB e 65 a 75% de nutrientes digestíveis totais (NDT).
- Silagem de Grão Úmido
A silagem de grão úmido é feita somente com os grãos da planta de milho, quando a umidade dos grãos estiver entre 30 e 40%. O período de colheita é por volta de 50-55 dias após o espigamento, quando é possível identificar uma camada preta na ponta do grão.
Após a colheita ocorrem à debulha das espigas e moagem do material. Esta etapa deve acontecer no mesmo dia para evitar perdas no processo e valor nutritivo. A compactação precisa ser eficiente para que remova o máximo de oxigênio e possibilite a fermentação. Em geral, a PB fica em torno de 10,5% e 85% de NDT.
- Silagem de Grão Reidratado
A silagem de milho reidratado é um meio de armazenamento do grão na fazenda e pode elevar a digestibilidade do amido. Esta silagem é o resultado da colheita do milho maduro (12 a 13% de umidade), moagem e adição de água antes de realizar a ensilagem.
O ponto chave para o sucesso no processo é a homogeneização da água ao grão moído. E pode ser realizado com a adaptação de canos furados ao moinho, ou mistura da água ao grão já triturado em um vagão misturador ou adicionar água a uma rosca sem-fim depois da moagem. O objetivo é obter teor de umidade acima de 30% da matéria natural.
- Snaplage
Também conhecida como silagem de espiga de milho, sendo na sua composição 75 a 80% de grãos, 10 a 15% de sabugo e 5 a 10% de palha. A colheita se dá pela adaptação de colheitadeira de silagem com a boca para grãos, na mesma época da colheita dos grãos úmidos (30-35% de umidade dos grãos). Esta silagem vem em alternativa à silagem de grão úmido e silagem de grão reidratado, esses três alimentos conservados são concentrados energéticos.
A diferença da snaplage com a silagem de grão úmido, reidratado e milho moído é o teor de fibra, em especial FDN, contribuindo para a melhoria do ambiente ruminal, ainda tem a vantagem de maior digestibilidade do amido e menor custo de produção.
- Earlage
A earlage consiste na silagem da espiga do milho sem a palha, somente com os grãos e sabugos. Mecanicamente, precisa-se de duas operações agrícolas. Na primeira ocorre a colheita da espiga, despalha e transborda a espiga para o triturador, para então ser ensilado. Constitui-se em torno de 85 a 90% de grãos e 10 a 15% de sabugo. Essa qualidade de silagem ainda não é muito utilizada no Brasil, pela demanda por duas operações agrícolas.
Tabela 1 – Composição de silagem de grão úmido, earlage e snaplage
Milho grão úmido | Earlage | Snaplage | |
Milho % | 100 | 85-90 | 75-80 |
Sabugo % | 0 | 10-15 | 10-15 |
Palha do sabugo % | 0 | 0 | 5-10 |
- Toplage
A toplage é a silagem feita pela colheita a partir da inserção da espiga principal, ou seja, colheita da espiga, folhas e colmo do topo da planta. Colheita do que há de melhor na planta, deixando para o solo um bom volume de massa com bons níveis de potássio melhorando a estrutura e a fertilidade do solo.
- Stalklage
A stalklage é feita a partir da sobra da toplage, isso significa que a confecção de silagem é realizada da parte de baixo da planta. O objetivo é fornecer fibras aos animais e atender a demanda energética de animais com baixa exigência. É preciso ter atenção ao pensar em utilizar esta parte da planta, pois ocorre a extração dos nutrientes do solo, perda de matéria orgânica e compactação das áreas de silagem.
- Silagem de Sorgo
A silagem de sorgo pode ser realizada na mesma época da silagem de planta inteira do milho ou, alternando a época de plantio, sendo o milho geralmente entre os meses de agosto a janeiro, e o sorgo final de janeiro e início de fevereiro.
Esta opção é possível pela maior resistência do sorgo à escassez hídrica, pela presença de serosidade foliar e sistema radicular mais profundo. Valor nutricional é de 85 a 90% do milho pela presença do tanino e menor digestibilidade do amido. Os teores médios são 6% de PB e 60% de NDT.
- Silagem de Capim
As gramíneas possuem duas principais características que viabilizam o processo de ensilagem. A primeira são as culturas perenes, que possuem maior flexibilidade na época da colheita para iniciar a produção de silagem. A segunda são as que possuem ainda menor custo de t por MS e alta produtividade (média de 40 t MS/ha/ano), porém, deve ser visto com cautela pelo menor teor de NDT presente, cerca de 53-55% e 6 a 8% de PB na MS.
Para a época de colheita, que representa o momento de maior valor nutritivo e coincide com a umidade excessiva na forragem, favorecendo o crescimento de bactérias indesejáveis para fermentação. Neste caso, é possível realizar o pré-murchamento, para elevar a MS a 28% e 35%.
- Cana-de-açúcar
A utilização de cana-de-açúcar se destaca, principalmente, pela elevada produtividade (50 t MS/ha) e boa qualidade na época de escassez de chuvas. Explicando melhor: o pico da produção associado ao fato de que o melhor valor nutritivo coincide com o período seco do ano, e persiste a um longo espaço de tempo. Além disso, o custo de produção é baixo.
É preciso ter atenção quanto à utilização da cana-de-açúcar devido ao baixo teor de PB e da maioria dos minerais, principalmente fósforo e enxofre. Caso seja esta a opção, é indicador oferecer suplementação mineral proteica juntamente com a cana.
Atualmente os resultados de desempenho dos animais consumindo silagem de cana-de-açúcar são inferiores ao seu uso in natura, por problemas no processo fermentativo de ensilagem, colheita, armazenamento e no consumo animal. O uso de aditivos que inibem bactérias indesejáveis pode ser uma alternativa na melhora do processo e viabilidade no uso da silagem de cana-de-açúcar.
- Feno
A evolução na formulação das dietas para bovinos deu início ao fornecimento de amido degradável no rúmen proveniente das silagens citadas acima. Com isso, em certas situações, é necessário complementar a fonte de fibra para promover uma melhor mastigação dos animais, sendo a utilização do feno uma das alternativas.
A conservação do valor nutritivo da forragem realizada a partir da fenação se dá por meio da rápida desidratação, uma atividade que promove a paralisação da respiração das plantas e dos micro-organismos. O teor de umidade das forrageiras sai de 80% quando estão in natura para menos de 20% após a fenação.
A grande desvantagem na utilização do feno é o elevado custo de produção, por este motivo tem seu uso limitado em produção leiteira a pasto.
Tabela 2 – Composição bromatológica média de alimentos conservados para bovinos
MS | PB | FDN | Amido | NDT | |
Earlage | 67 | 8,4 | 18 | 58 | 87 |
Snaplage | 63 | 7,7 | 22 | 58 | 82 |
Toplage | 47 | 9,0 | 32 | – | – |
Silagem de grão úmido/reidratado | 70 | 9,2 | 10 | 54 | 90 |
Milho moído | 88 | 9,4 | 9 | 53 | 82 |
Silagem de milho | 35 | 6,0 | 45 | 60 | 69 |
Silagem de sorgo | 35 | 6,0 | 44 | 60 | 60 |
Silagem de capim | 28 | 6,0 | 70 | – | 53 |
Feno | 87 | 6,0 | 80 | – | 57 |
Após conhecer um pouco mais sobre os alimentos conservados, fica mais fácil optar por alguma alternativa de fornecimento de energia e fibra em momentos de escassez hídrica e/ou de grande desafio energético pelas vacas. É importante lembrar que o equilíbrio entre proteína e energia deve ser atendido nas dietas, sendo também indispensável o fornecimento de minerais aos animais.
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