Como as fazendas de cria podem conseguir a lucratividade desejada nesta época do ano?

25/08/2020
Recria

Estamos no mês de agosto. Historicamente, é o tempo conhecido por anteceder o período de transição, entre a estação seca do ano e a estação das chuvas. Este período também é conhecido por ser o mais complexo em relação a atingir bom desempenho de animais em regime de pastagem.

Nesta época do ano as pastagens geralmente estão baixas, pois estão vindo de um período longo de estiagem e clima desfavorável ao seu crescimento e ainda possuem baixa qualidade nutricional. Apesar de estar no início das brotações, o que traz certo conforto aos nossos olhos, é, na verdade, exatamente isso que faz desse um momento delicado. Quem nunca ouviu um pecuarista das antigas dizer que os animais ficam “incutidos nos brotos”?

A verdade é que nesse momento os animais pastejam com bastante intensidade, atraídos pela brotação, porém, não conseguem consumir quantidade e qualidade de forragem suficiente para bons desempenhos. Além disso, muitas vezes, acabam deixando o cocho de suplementos de lado prejudicando ainda mais o seu desenvolvimento.

Somado a isto, pensando em uma fazenda de cria, estaremos com animais de recria desmamados recentemente e vacas próximas da parição, ou seja, teremos categorias animais de alta exigência nutricional para alimentar de forma adequada a fim de conseguir a lucratividade desejada.

A boa notícia é que, geralmente, essa fase dura poucos dias! A má notícia é que a exigência de sermos cada dia mais produtivos não nos permite ter o luxo de não termos lucratividade no período.

Por que se preocupar se vai passar rápido?

Por estarem no terço final da gestação, caso não ocorra um manejo diferenciado para essa época, as matrizes irão parir em escore corporal baixo e terão dificuldade de emprenharem novamente durante a estação de monta. Os bezerros desmamados, por sua vez, perderão peso e entrarão na fase de engorda precisando recuperar o peso perdido ao invés de estarem prontos para ganhos adequados à categoria e época do ano.

Com isso, as implicações serão a piora nos índices reprodutivos das matrizes, como intervalo entre partos maior e menor taxa de prenhez, acarretando ineficiência no sistema. Além disso, diminuindo a aceleração no desenvolvimento dos bezerros, teremos maior idade ao abate, menor produção @/ha/ano, uso ineficiente da área de pastagem, menor giro do capital, e por consequência, menor lucro.

Como podemos contornar essa situação?

O fato é que precisamos ao mesmo tempo deixar as pastagens “descansarem” para rebrotarem e recuperarem sua capacidade de suporte, mas também precisamos deixar os animais bem nutridos. Diante disto, é necessário nos precaver quanto a disponibilidade e qualidade da forragem existente na propriedade.

Com esse cenário, uma alternativa que está em alta nas propriedades brasileiras é o Sequestro de Animais.

Como funciona o Sequestro?

A expressão sequestro diz respeito à realocação de animais, desmama e, às vezes, às vacas em terço final de gestação, que estavam sob regime de pastagem em estruturas de confinamento para serem alimentadas temporariamente no cocho.

Esta prática vem sendo adotada para regular a taxa de lotação da propriedade quando a capacidade de suporte está reduzida pela escassez da pastagem e para evitar que os animais consumam a pastagem na época em que há brotos. Geralmente, adota-se o sequestro de animais durante 45 a 90 dias. Sendo assim, é preciso se atentar ao fato de que não pode faltar alimento durante este período.

No sequestro, a base da dieta é algum volumoso suplementar (silagem de grãos, cana de açúcar ou feno) que tenha qualidade semelhante em relação ao nível de proteína e energia que um pasto de baixa qualidade.

Em geral, a dieta utilizada (silagem ou outro volumoso mais suplemento) no sequestro se assemelha nutricionalmente a um pasto de época de águas. Por isso é fundamental verificar qual a categoria que introduziremos neste sistema para saber o tipo ou o nível de suplementação que será fornecida no cocho em complemento aos níveis nutricionais do volumoso escolhido.

Por exemplo: silagem de milho possui maior porcentagem de PB em relação à cana de açúcar sem adição de ureia. Assim, a estratégia a ser adotada precisa levar em conta o consumo de nutrientes vindos do volumoso suplementar.

Recria

Para a recria, o interessante é que esses animais além de possuírem alta demanda proteica, estão no momento de excelente resposta à inclusão de Proteína na dieta. Neste sentido, precisamos fornecer suplemento mineral proteico visando atender a demanda animal. Mas, é preciso bastante atenção quando falamos em proteicos! Isso porque encontramos diversos tipos de suplementos minerais proteicos à disposição no mercado, e, por este motivo, é importante buscar fornecer suplemento mineral proteico com alto nível de Proteína verdadeira, baixo Nitrogênio Não Proteico, aditivos em níveis ideais e, sem dúvida, se atentar aos níveis de macro e micro minerais. Afinal, proteicos não são todos iguais.

Como vimos, a capacidade de suporte da pastagem pode estar reduzida neste período do ano. Assim, os animais de recria podem ser suplementados com proteicos ou proteico-energético de maior consumo e volumoso suplementar no cocho, adotando o sequestro de bezerros.

 

Proteico no sequestro

Sabendo que a exigência de Proteína para animais de 300 kg e ganho médio diário esperado 0,5 kg é de 583g/dia de Proteína Bruta (PB), para atender esta demanda o suplemento proteico mais adequado seria o que proporcione no mínimo 60 g de PB a cada 100 kg de Peso Vivo (PV).

Por exemplo: animais com média de 300 kg consumirão cerca de 450 gramas de PB proveniente do volumoso suplementar (neste caso animais consumindo cerca de 20 kg de silagem de milho com 30% de MS e 7,5% de PB) mais 200 g de PB vindo do Suplemento Mineral Proteico 66 (consumo 100 g/ 100 kg PV), resultando assim em consumo diário de 650 g de Proteína.

Proteico-energético no sequestro

Outra excelente opção para esta categoria é o fornecimento de Proteico-Energético (20% PB e 62,5% de NDT) com fornecimento correspondente a 0,5% do PV. Assim, se adotarmos fornecimento de 1,5 kg de suplemento para animais de 300 kg, o consumo de Proteína seria 640 g por dia, sendo 340 g provenientes do volumoso (consumo em média de 15 kg de silagem de milho com 30% de MS e 7,5% de PB) e 300 g do proteico-energético, além do aporte energético de 900 g/dia alcançado pelo consumo do suplemento.

 

Tabela 1 – Estratégias para sequestro de animais de recria com 300 kg de PV e ganho médio esperado de 0,5 kg

Exigência diária de Proteína para animais de 300 kg e GMD 0,5 kg583 g
ProteicoProteico 66Volumoso suplementar650 g de PB
Proteico-Energético 0,5%Pró-ÁguasVolumoso suplementar640 g de PB + aporte energético

Matrizes

Para a categoria das vacas, algumas alternativas podem ser adotadas para minimizar os efeitos do final da seca nas matrizes. Uma delas é “apartar” vacas com escores corporais mais baixos e fornecer suplemento mineral proteico ou ureado. A escolha depende do desafio de ganho ou manutenção de peso para parição ou cobertura.

Em relação às primíparas, elas sempre são desafio em fazendas de cria, uma vez que necessitam de nutrientes para continuarem crescendo, para o feto durante o terço final da gestação e quando parirem, para o aleitamento. Diante disto, alocá-las nos melhores pastos juntamente com o fornecimento de suplementos minerais proteicos ou proteicos-energéticos é uma ferramenta para melhora nos índices zootécnicos.

Proteico ou ureado no sequestro

Para as vacas também pode-se adotar o sequestro, entretanto, a demanda proteica é 679 g diárias para vacas de 450 kg de PV com ganho médio diário estimado de 0,5 kg. Assim, cada animal consumiria cerca de 820 g de PB suplemento mineral proteico (40% de PB, consumo 450 g/UA) em conjunto com o volumoso (consumo por volta de 28,5 kg de silagem de milho com 30% de MS e 7,5% de PB).

Outra estratégia é optar pelo fornecimento de suplemento mineral ureado aditivado (15% de Ureia, consumo 270 g/UA). Neste caso, as vacas consumiriam 790 g de PB.

As duas opções atenderiam a demanda proteica das vacas, a escolha depende do escore atual da matriz e qual escore precisa ser alcançando em determinado tempo.

 

Tabela 2 – Estratégias para sequestro de matrizes com 450 kg de PV e ganho médio esperado de 0,5 kg

Exigência diária de Proteína para animais de 450 kg e GMD 0,5 kg679 g
ProteicoMinersecaVolumoso suplementar820 g de PB
Supl. UreadoMD SecaVolumoso suplementar720 g de PB

 

Para as categorias que compõe uma fazenda de cria, é importante atentar-se não somente à Proteína, mas buscar suprir a demanda por minerais dos animais, principalmente o fósforo. A mineralização do rebanho precisa ser alcançada para que não seja um fator limitante na produção.

Enfim, este é um momento delicado e que requer atenção, é preciso não apenas fazer o básico como fornecer apenas a demanda de nutrientes para mantença, mas ir além, fornecer a eles a quantidade necessária para desempenharem atingindo o máximo potencial. Cada estratégia precisa ser pensada e acompanhada do cálculo para implantação e manutenção, para podermos verificar a viabilidade econômica do sistema.


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